terça-feira, 28 de setembro de 2010














Artista sem estrela

Meu mundo é triste.
A calçada é fria.
Não quero requinte.
Só um cobertor e um prato com comida.

Milhões de telespectadores a me observar.
E nem um para me ajudar.

Mãos a tapar o nariz do fedor.
Palavras de insulto que me machuca.
Não sou vagabundo doutor.
E nem filho de puta.

Meus olhos choram e sangram.
Dos que na madrugada me espancam.

A lata de lixo com resto de comida.
Dos estabelecimentos.
São minha alegria.
Que me dão o meu sustento.

O que, mas me dói o coração.
É ver a criança perguntar,
O que faz deitado no chão?

Holofotes ligados.
Câmeras a filmar.
Sou o protagonista desse espetáculo.
Da reportagem que vai ao ar.

De mim comendo lixo dos outros.
Ou então depois, achado se decompondo morto.

Na minha calçada da fama não tem minha marca registrada.
Só os jornais que me aquecem no frio da madrugada.

O mundo é um grande espetáculo.
De coisas belas de coisas feias.
E nele sou, mas um a interpretá-lo.
Como "O artista sem estrela".



                                         Fredy letras

Um comentário:

  1. Bravo, nobre Fredy,
    perfeição de crítica social,
    é de trincar o coração, só não leva
    ao desespero e ao choro incontido,
    devido ao toque sutil da ironia,
    um sarcasmo poético e delicado,
    mas que corta mais que mil bisturis,
    na carne da gente, que lê, que vê
    e se conforma em estar de mãos amarradas,
    e vontade de fazer alguma coisa,
    rastejando.

    Mas é isso aí.
    O bom velhinho sonha com um cobertor
    quentinho, mas fica bem com os jornais
    tb.

    Todavia, fica a indagação do adorável
    Dom Helder Câmara:
    "Se não formos nós, será quem?
    Se não for agora, será quando?

    Tem um Deus ali dentro daquele homem
    deitado no chão...

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